Recomeçar a vida em um novo país traz mil desafios e novidades. É cultura, idioma, rotina… Mas também alimentação. Afinal, a comida no Canadá é diferente?
Algumas pessoas chegam ao Canadá dispostas a experimentar o que vier. Outras, no entanto, têm medo de sentir muita falta dos pratos de sempre. Existe ainda o caso de quem tem restrições alimentares e não sabe se vai conseguir seguir a dieta. O nosso papo de hoje é sobre essas e outras questões.
Muito além do poutine
O poutine é o prato canadense mais conhecido ao redor do mundo. Ele é feito com batata frita, pedacinhos de queijo (cheese curds) e um saboroso molho (gravy). Assim como a gente reinventa as coisas no Brasil, aqui você também encontra versões “turbinadas” do poutine. Tem poutine com cogumelos, bacon, frango e o que mais quiserem botar na mistura. Apesar de poder ser pedido sozinho, ele também é um acompanhamento comum nos restaurantes e lanchonetes daqui.
Lado a lado com o poutine, está o maple syrup. Na origem, estão os povos aborígenes, que começaram a extrair a seiva das maple trees (árvores de bordo). Aliás, a maple leaf, aquela folha que está na bandeira canadense, vem de uma das espécies de bordo.
Pois bem, o processo de produção foi sendo aperfeiçoado até virar a indústria atual. E os canadenses a-m-a-m maple syrup. Além de ser usado puro, ele dá sabor a todo tipo de produto, de bacon a feijão enlatado.
Por causa do multiculturalismo canadense, muita gente diz que não existe uma culinária típica do país. Mas, na verdade, as contribuições dos povos indígenas e dos imigrantes criaram uma combinação única. Andando nas cidades, é comum encontrar restaurantes com pratos típicos de diversos países, como China, Grécia e Índia. Ou seja, é sempre uma oportunidade de provar algo diferente.
Mas existem também pratos que são a cara do Canadá, como:
- Montreal-style bagel: bagel feito no forno a lenha, levemente adocicado e mais denso que o New York-style bagel.
- Nanaimo bar: esse é um doce batizado em homenagem à cidade de Nanaimo (BC). É feito com wafer, castanhas ou nozes, coco, creme e ganache de chocolate.
- Butter tart: tortinha doce feita com manteiga e ovos.
- Maple taffy: espécie de pirulito feito com seiva de maple.
- Bannock: massa frita de pão, semelhante a uma panqueca.
- Carne de alce, veado, bisão etc.: a carne desses animais é considerada uma iguaria no Canadá.
- Baked beans: feijão cozido com maple syrup.
- Peameal bacon: tipo de bacon úmido e não defumado feito com carne de porco e fubá.
- Tourtière: torta tradicional do Québec, é feita com carne moída e batatas.
- Beaver tails: massa frita no formato de uma cauda de castor, com coberturas a gosto. Foi criada em Killaloe (ON).
- Bumbleberry pie: feita com uma mistura de frutinhas (como mirtilo, framboesa e amora). Com frequência, também leva um vegetal popular no Canadá chamado rhubarb.
- Pouding chômeur: típico do Québec, é um pudim feito com maple syrup.
- Saskatoon berry pie: torta feita com a frutinha batizada em homenagem à maior cidade de Saskatchewan.
- Sucre à la crème: doce em cubinhos feito, como diz o nome, com açúcar e creme.
- Canadian pizza: tipicamente, leva molho de tomate, queijo, bacon, pepperoni e cogumelos.
O canadense come mal?
Muita gente imagina que o Canadá segue aquele estereótipo do americano, com muita junk food e porções gigantes. No entanto, apesar dos fast-foods também se espalharem pelo país, o canadense tem hábitos mais saudáveis.
O Canadá oferece muita opção de comida saudável com valores acessíveis. O sistema de saúde público leva também a um esforço grande do governo em incentivar uma alimentação balanceada. Afinal, menos internações e tratamentos significam menos gastos.
Uma outra diferença é que como aqui não tem vale-refeição, o canadense costuma levar comida de casa pro almoço. Isso acaba reduzindo o tamanho das refeições e afastando a tentação de comer besteira.
Uma outra coisa que a gente nota aqui é que os canadenses se exercitam bastante. Nas ruas, tem sempre pessoas de todas as idades caminhando ou andando de bicicleta. E isso se reflete na saúde da população.
Pra efeitos de comparação, a gente pode analisar os dados de Canadá e Brasil. No Canadá, 56% das pessoas fazem 2h30 ou mais de atividade física por semana, contra 38,1% dos brasileiros.
Dados de 2018 apontam que 26,9% dos canadenses são obesos e outros 36,1% têm sobrepeso. Isso leva a um total de 63% da população. No mesmo ano, uma pesquisa do Ministério da Saúde indicou que 19,8% dos brasileiros eram obesos. Além disso, 55,7% estava acima do peso considerado saudável pela OMS, num total de 75,5%. Ou seja, o Brasil tem mais pessoas com sobrepeso ou obesidade que o Canadá.
O Canadá também leva a melhor em relação ao consumo diário de frutas e hortaliças. São 28,6% da população canadense contra 23,1% da brasileira. Um em cada quatro brasileiros é hipertenso, contra um em cada seis canadenses. Já a frequência de diabetes na população é quase a mesma nos dois países (cerca de 7%).
Quanto se gasta com comida no Canadá?
Esse cálculo varia bastante de acordo com o tamanho da família e os hábitos de consumo. Aqui em casa, somos um casal sem filhos e gastamos por volta de CAD$ 400 por mês. Enquanto eu levo almoço, meu marido tem direito a comer no trabalho (ele trabalha num restaurante). Nós gostamos de cozinhar, mas não temos muito luxo. Carne, queijos e bebida alcoólica são itens que eu considero caros aqui, então a gente não compra tanto.
Temos o hábito de comer fora ou pedir delivery uma vez por semana. Quando fazemos isso, a conta costuma sair entre CAD$ 30 e CAD$ 40 por pessoa.
Aliás, dois fatores que devem ser levados em conta ao comer num restaurante são gorjeta (tip) e impostos (taxes). Como padrão, a gorjeta é de pelo menos 15% sobre o valor da conta. Já os impostos variam de uma província pra outra. Aqui em Ontario, por exemplo, são mais 13%. Ou seja, os valores que você vê no cardápio vão ter um acréscimo de quase 30% no final.
É difícil encontrar produtos brasileiros?
Nem tanto. Algumas cidades têm lojas que vendem produtos do Brasil, seja presencialmente ou pela internet. Além disso, me surpreendeu a variedade de vegetais no mercado, mesmo durante o inverno. Ah, e pra quem gosta de açaí, não é difícil achar a polpa congelada nos mercados.
A quantidade de produtos internacionais nas prateleiras também surpreende. Feijão, castanha de caju, castanha do Pará e temperos são bem fáceis de achar. Na Bulk Barn, que vende produtos a granel, também é possível encontrar diversos tipos de farinhas e até batata palha. Também é possível fazer tapioca hidratando a tapioca starch. Já tapioca granulada é encontrada aqui como tapioca pearls.
O trigo pra quibe se chama fine bulgur wheat. Não passa um dia sem comer um pedacinho de queijo minas? Dá pra matar a vontade com o tuma cheese da Farm Boy. Quem gosta de queijo coalho pode pôr o halloumi cheese pra assar que funciona. Ama requeijão? O cheese spread da Puck dá conta do recado.
Uma coisa que não dá pra encontrar tão fácil aqui é creme de leite em lata. O mais comum é o whipping cream, que tem textura semelhante à do creme de leite fresco e fica refrigerado. Mesmo assim, alguns mercados vendem o produto enlatado também, como o da Carnation ou da Puck.
Feijoada no Canadá, por que não?
E te contar: já comi feijoada aqui mais de uma vez e ficou bom demais. Alguns ingredientes são mais difíceis de achar, mas dá, sim, pra fazer uma feijuca de respeito.
Quem gosta de churrasco consegue encontrar até picanha pra vender aqui. O que confunde no começo é entender quais são os cortes de carne iguais aos do Brasil. Por isso, achei esse post aqui bem útil pra encontrar as equivalências.
Outra coisa que a gente penou pra achar aqui foi linguiça calabresa. O mais parecido que achamos foram as fully cooked sausages.
Se você não resiste a um galeto, aqui é possível encontrá-los nos supermercados como Portuguese chicken. Se você é fã de um guaraná pra acompanhar, aí eu fico te devendo o original. Mas dá pra beber ginger ale (refrigerante de gengibre) e fazer de conta.
Vou conseguir achar opções vegetarianas/veganas? E comida sem glúten ou sem lactose?
Quem não come carne e produtos de origem animal não costuma passar perrengue no Canadá. Isso porque tanto supermercados quanto restaurantes oferecem muitas opções pra esse público. Além de haver diversos estabelecimentos vegetarianos/vegan, os cardápios costumam ser bastante inclusivos nesse sentido.
Quem tem restrições alimentares, como intolerância à lactose ou doença celíaca, também tem uma gama de alternativas. Os mercados grandes costumam vender diversos alimentos pra quem segue dieta especial. Muitos restaurantes também indicam no cardápio quando o prato tem glúten ou lactose, além de oferecer substituições.
Quem vem pra cá não tem muito com o que se preocupar quando o assunto é alimentação. Além de achar no mercado produtos do mundo inteiro, também há restaurantes com comida típica de diferentes países. Quem segue dieta com restrições também não passa aperto. Resumindo, a comida no Canadá é variada e um prato cheio pra quem quer comer bem.
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