Hoje eu termino com a parte 2 dessa série sobre a nossa primeira visita ao Brasil após mais de um ano no Canadá. Dessa vez falaremos sobre atendimento, empregos, política e segurança.
Não leu a parte 1 ainda? Clica aqui e veja o que rolou na parte 1. Na primeira parte discutimos trânsito, serviços, comidas e o nosso encontrinho com seguidores do Casal Nerd no Canadá! #maneiríssimo
BTW, essa foto do título não tem muito haver com o que vai ser dito. HAHAHA É só uma foto legal que tiramos no Brasil. Mas deixando isso de lado, vamos começar essa parte 2 falando de atendimento! Afinal quem não gosta de ser bem servido, né?
Atendimento
Quem já viajou para o exterior (principalmente EUA e Canadá) sabe que o atendimento em qualquer bar/restaurante costuma ser excelente. Isso se dá principalmente pelo fato da gorjeta não ser obrigatória e é a qualidade do atendimento que vai determinar o quanto o garçom vai receber. Essa mecânica é o principal motivador por trás de um excelente atendimento.
No Brasil, muitos lugares já deixam descriminado logo na entrada “Cobramos 10%”. Agora, me diz: que profissional vai prestar um melhor atendimento se ele não tem perspectiva de ganhar mais?
Ainda mais que a gente sabe que, infelizmente, muitos restaurantes cobram os 10% mas não repassam à equipe (prática que eu, particularmente, abomino).
Eu acredito que essa obrigatoriedade dos 10% no Brasil contribui muito para o mal atendimento. Costuma ser mais frequente ser atendido de forma deficitária no Brasil que em outros países que adotam o sistema como o americano/canadense. Então fica aquela dica né…
Tem… mas acabou…
Um excelente exemplo de atendimento de baixíssima qualidade que recebemos foi no restaurante UNIQ Beach lounge, em Búzios. No dia seguinte ao casamento, nos juntamos a uma galera para um after-party nesse lugar. O lugar era lindo, tinha uma piscina que dava na praia, acomodações bem bacanas… Agora, o serviço…
Imagina um lugar que demora 20 minutos pra trazer um mate (aquele pronto, da garrafinha, sabe?). Pois é. Uma confusão!
Nenhum dos garçons sabia o que tinha e o que não tinha no cardápio (e eles se contradiziam o tempo todo). No melhor estilo, um falava “tem isso sim” e sumia. Aí perguntávamos pra outro e ele falava “mas acabou isso”.
A comida ainda por cima era cara e de baixíssima qualidade! Um casal de amigos esperou uma hora e meia por uma porção de batata frita murcha e banhada em óleo. E olha que devia ter só uns 200 gramas e custou 60 reais.
A gente até tentou almoçar, mas como nenhum dos garçons sabia realmente quais itens do cardápio estavam disponíveis e cada um falava uma coisa, a gente desistiu e foi embora para almoçar em outro lugar.
Este é um desabafo pessoal porém é bem simbólico do tipo de falha de atendimento que rola no Brasil. A gente realmente nunca foi tão mal atendido quanto fomos lá. Então, #ficadica: em Búzios, evite a todo custo o UNIQ Beach lounge.
Empregos de entrada
Certa vez estava conversando com uma amiga querida daqui de Vancouver sobre empregos e salários nas nossas áreas aqui e foi uma conversa que realmente me abriu os olhos. Ela, que hoje é diretora de marketing de uma fin-tech super bem sucedida, estava me contando como foi legal a época em que ela era barista na Starbucks (!!!).
Nessa conversa entendi uma diferença fundamental entre o processo de construção de uma carreira no Canadá e no Brasil. Disclaimer: essa é uma visão mais geral do meu ponto de vista sobre como isso funciona em cada país. Sei perfeitamente que não é o caso de 100% das pessoas (eu mesmo não me encaixo nesse perfil que irei descrever agora, visto que comecei a trabalhar aos 16 anos).
No Brasil, um jovem de classe média sai do ensino médio, vai para a faculdade, termina a faculdade e só depois ele se insere no mercado de trabalho. Até este momento, essa pessoa sequer começou a construir uma carreira. Não tomou um esporro do chefe ainda. Não fez uma besteira e teve que se responsabilizar. Não teve experiência no mercado de trabalho ainda.
Os famosos summer jobs
No Canadá, um jovem com 15/16 anos já está se inserindo no mercado de trabalho. Eles começam normalmente em summer jobs no verão. Já estão ralando pra tirar o dele.
E todo mundo começa num emprego de entrada: garçom/garçonete, hostess de restaurante, barista no Starbucks, atendente de loja, e etc.
A maioria dos jovens compra a roupa da festa de formatura do colégio com o dinheiro que eles ganharam nesses summer jobs.
Eu já ouvi relato de um amigo que disse que a filha dele está trabalhando para poder alugar a limosine no dia da formatura com as amigas. Ah, e para pagar o vestido que ela quer. E que ele nunca pagaria esses luxos para ela. E olha que ele tem um cargo MUITO bom aqui.
Quando esse jovem chega a uma posição mais alta em sua carreira (como o exemplo da minha amiga), ele já aprendeu uma série de valores em todas as experiências que ele teve. E o mais importante: respeito por todos esses profissionais que estão ali começando suas carreiras.
No Brasil, como a mão de obra é muito barata, esses empregos de entrada perdem esse papel tão legal de ser o início de uma carreira para um jovem e passam a ser um emprego de subsistência para famílias de baixa renda. Isso acaba reforçando o problema de se ter um atendimento de baixa qualidade em muitos lugares.
Política
Eu juro pra vocês que achei que tava rolando uma guerra civil no Brasil. Geral se agredindo na rua, caindo na porrada do nada… Não poder sair na rua que vem alguém te intimar a dizer em quem você vai votar e bater em você se você estiver “no time errado”. Essa era a impressão que a gente tinha.
A gente acompanha o que está acontecendo principalmente através dos amigos (leia-se facebook e whatsapp) e eu sigo vários jornais no twitter, então acabo lendo muita coisa por lá.
A gente já não acompanhava notícia na TV nem no Brasil, agora então que a gente não assiste mesmo rsrsrs.
Mas o que eu percebi é que a galera briga mais no facebook que na vida real rsrsrsrs. Tive várias conversas muito interessantes com amigos que estão apoiando um ou outro candidato.
Todas foram conversas realmente inteligentes onde tentamos entender um o ponto de vista do outro e pensar numa solução melhor (ou em qual seria a solução menos pior, nesse caso das eleições de 2018, né?).
E no Canadá? Como que é isso?
Aqui as pessoas também brigam, xingam, e falam que “o outro lado é um bando de corrupto que só faz asneira”. Não acho que é exclusividade do Brasil essa polarização entre esquerda e direita (ou liberais e conservadores, como eles chamam aqui), mas o nível de discussão é diferente.
Ainda não vi discussões do gênero “ah, mas o seu candidato tem não sei quantos processos” ou “o seu candidato falou que mulher tem que ganhar menos” (até por que, aqui uma afirmação desse nível dá cadeia na hora, não importa quem seja). Já vi discussões onde alguns afirmavam que um tinha roubado 7 milhões de dólares pra não sei o quê, e etc…
Mas, de maneira geral, me parece que a galera por aqui não tem político de estimação não. Se algum maluco vai na TV e fala que mulher tem que ganhar menos não sobra ninguém pra apoiar o cara. Ao mesmo tempo, se vem um outro maluco falando que vai aumentar o salário mínimo a partir do dia primeiro de janeiro a galera cai em cima também – e não somente a oposição! Todo mundo cai em cima quando algum maluco começa a falar asneiras aleatórias.
Acho que essa capacidade de olhar fora do seu ponto de vista ideológico é umas das coisas que faz o Canadá especial. Além disso a política é bem diferente aqui por ser um parlamentarismo. É legal tentar entender como funciona o sistema aqui antes de mudar. #ficaadica
Segurança (ou a falta de)
E se eu contar que a gente quase foi assaltado vocês acreditam? A sorte é que eu estava esperto e meu spider sense não falha. Nada aconteceu, e está tudo bem com a gente. Não vou entrar em detalhes, mas que coisa né?
Nessas três semanas que a gente passou no Brasil eu senti novamente o medo constante de andar na rua. Fui ao mercadinho a uma quadra de distância só com minha identidade e o cartão do banco no bolso. Por várias vezes deixei o celular em casa.
Nessas três semanas tive alguns relatos de amigos que foram assaltados. Isso não é vida não, gente. E me entristece muito saber que eu tenho amigos queridos e família passando esse aperto todos os dias.
A gente acostuma, acaba virando normal e vamos criando truques e jeitos de levar a vida dentro dessa realidade. Mas não. Não é normal. E depois de estar no Canadá e perceber QUÃO anormal isso deveria ser, fica ainda mais difícil lidar com isso com normalidade.
Conclusão
Ir ao Brasil pela primeira vez após um ano e meio de imigrante nos deu alguns insights que a gente nunca tinha tido. Fez a gente perceber como a gente se acostuma rápido com certas coisas e como a gente mesmo muda muito.
Foi uma experiência muito interessante, e, claro, foi muito bom rever os amigos e a família. Foi a melhor parte na verdade! Mas três semanas é tempo demais rsrsrs.
Na nossa opinião se forem voltar, pensem em ficar umas 2 semanas. É tempo suficiente para você se chocar e matar as saudades dos amigos e da família ao mesmo tempo. #ficaadica
E se você entendeu a referência do título, deixa um alô aí! 😉
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E vemos vocês aqui no Canadá!
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