Quem acompanha o blog sabe que eu escrevo mais ou menos uma vez a cada seis meses, e já deve fazer mais ou menos esse tempo que eu apareci aqui pela última vez.
Como a Rey é essa pessoa super planejada e que estuda os mínimos detalhes, ela que sempre escreve sobre a parte “técnica” do Express Entry. Eu venho só de vez em quando pra falar um pouco sobre algo que estou sentindo nesse processo, e o tema de hoje é a vida social após seis meses de imigração.
Vida Social no Brasil
Eu era até um cara bastante sociável no Brasil. Eu sou falador, gosto de conversar, gosto de trocar ideia. Gosto de assuntos interessantes e conversas interessantes. Gosto de sair com os amigos e fazer coisas que nós curtimos. Paro aquela campanha single player fodástica no meio pra jogar Overwatch com um brother.
Eu até tinha uma vida social bem ativa. Como sou falador pra caramba, me comunicava com frequência com os amigos. Toda noite rolava pelo menos uma partidinha rsrsrs.
Nunca tive tempo ruim pra sair e fazer as coisas com a galera (a menos que fosse algo que eu não curtisse fazer. Não me chama pra um show de sertanejo que eu não vou não!). Marcava churrasco, ia no boteco, fazia um rango em casa e chamava os amigos, saía pra jogar board games, marcava aquele REDÃO irado e virava a noite jogando e tomando uma gelada… Sempre que dava eu tava na área, e sempre funcionou numa boa pra mim.
Tenho horror a ficar no “vamos marcar!”. Se você falar “vamos marcar” pra mim, eu vou marcar. Eu vou te ligar e vou marcar e nós vamos fazer o que a gente estava falando que ia fazer.
Chegar num lugar onde você não tem família, não tem amigos, não conhece o lugar, não sabe direito as coisas que tem pra fazer e ainda precisa correr atrás de trabalho e desembolar todos os pepinos que você irá encontrar pelo caminho não deixa muito tempo pra cultivar uma vida social – principalmente se você já passou dos trinta e não está mais na faculdade.
Solidão
Chegar e não conhecer ninguém é ruim, mas você está tão “pilhado” resolvendo tudo o que precisa resolver, conhecendo a cidade nova e fazendo tantas outras coisas que por uns bons 5 meses aí eu nem senti. Recentemente, com tudo mais calmo já, é que as coisas começaram a me afetar.
A Rey é uma companhia fantástica, não me entendam mal, mas depois de um tempo começa a surgir uma necessidade de socializar com outras pessoas. Você vê os amigos marcando as coisas nos grupos no WhatsApp e sabe que não pode participar. O máximo que pode fazer é desejar um bom divertimento pra galera. Vê as fotos da galera no churrasco que você com certeza estaria se estivesse por lá.
A falta que faz aquele almoço de domingo na casa da mãe/sogra. Aquele mesmo que vc achava um saco ter que ir toda vez. Todas essas pequenas interações sociais fazem muita falta, e eu ouso levantar uma hipótese: quando você tem família e amigos ao seu redor você não precisa fazer tanto esforço para iniciar ou participar de qualquer interação social que seja. Elas começam de forma muito natural, normalmente.
Mesmo quando bate aquela preguiça de ir à casa da sua mãe pro almoço de domingo dela e você preferiria ficar em casa jogando WoW porque ainda tem muito artifact power pra farmar, você não precisa se esforçar pra isso acontecer e existe uma bi-lateralidade nas demonstrações de carinho. Você nunca vai imaginar como aquele curto trajeto até a casa da sua mãe, o almoço, e voltar pra casa faz diferença para sua sanidade social.
Pouco a pouco essas coisinhas vão apertando no peito cada vez mais, e você começa a se sentir só. E você se sente só não pela falta de pessoas ao seu redor, mas por não poder mais participar de tudo aquilo que adorava fazer. É uma situação onde, se você não ligar ninguém vai te ligar. Se você não mandar uma mensagem, ninguém vai te mandar uma mensagem.
O problema do fuso-horário
Agora, no inverno, estamos com uma diferença de 6 horas para minha cidade natal no Brasil. Isso tem uma série de implicações. Muito mais implicações em minha vida social que eu achei que teria.
Seis horas de diferença significa que quando eu estou acordando, meus amigos no Brasil já estão almoçando. Significa parar de receber notificações do Facebook e do WhatsApp às 4 da tarde, no meio do seu expediente de trabalho. É chegar em casa do trabalho e já estar todo mundo dormindo.
Quando você manda mensagem está normalmente de madrugada no Brasil. E, ou você acaba acordando a pessoa ou a pessoa vai ver só de manhã, o que torna muito comum a pessoa nunca responder. Normal, tudo bem, a pessoa viu de manhã na correria, a notificação sumiu, ela esqueceu de responder.
A diferença de fuso-horário também desloca muito as conversas, principalmente nos grupos. Você sempre vai pegar o assunto no meio do caminho, ou vai iniciar um assunto que ninguém vai responder porque vai chegar no outro dia de manhã e alguém já vai começar o dia mandando alguma outra coisa.
Por mais que a tecnologia facilite imensamente a comunicação, a tecnologia não tem como quebrar a barreira do fuso-horário e esse deslocamento faz a gente sentir muito.
Cultivando novas amizades
Certos ambientes são mais propícios para se cultivar amizades. Na faculdade, por exemplo, todo mundo que está ali cursando aquelas aulas tem um interesse em comum. Ter um interesse em comum é a fagulha que pode iniciar uma amizade. Tentar fazer amizade com alguém que não tem nada em comum com você é muito complicado e, na minha experiência, não dá certo.
Eu tenho minhas dúvidas se tem como mesmo criar uma relação de amizade de verdade após os trinta anos. Digo isso pois o foco de todo mundo normalmente muda nessa faixa etária. Estamos todos trabalhando, correndo atrás do nosso.
Muitas vezes casados e com filhos pra cuidar, e o trabalho consumindo grande parte do dia. A real é que eu não acho que sobra tempo para criar uma amizade de fato. Surgirão colegas, pessoas que você irá interagir, chamar pra tomar uma cerveja, e tal, mas acho que fica por isso mesmo.
A coisa do “ter algo em comum” parece mais importante que eu imaginava. Isso influencia, inclusive, fazer amizade com os gringos. A cultura totalmente diferente complica muito. Eu juro pra vocês que esses dias tive que ensinar pra um chinês o que era uma lasanha, pois o cara não conhecia.
Vida social no trabalho
No trabalho você vai conhecer pessoas. Esse, inclusive, foi o principal motivo de eu ter saído da Aurea/Crossover e ter vindo trabalhar numa empresa daqui. E isso é legal! Mas você não necessariamente vai cultivar uma amizade ali.
Lógico, temos várias coisas em comum (por exemplo, o trabalho que estamos fazendo), mas o foco é o trampo. Dificilmente essas pessoas vão fazer parte da sua vida social fora to escopo do trabalho. Muitas vezes você não tem nem o que conversar se não for sobre trabalho.
Não tem lá grandes momentos de socialização (até que tem toda sexta-feira a “beer friday” às 4pm)… Às vezes até faz um happy hour fora da empresa com a galera, mas meio que morre nisso aí.
Vida social no trabalho acaba se resumindo a: “e aí, como foi o fim de semana?”, “e aí, algum plano pro fim de semana?”, “finalmente sexta-feira, hein” e variações quando perto de datas comemorativas.
Cair na rotina
Juntando tudo isso, comecei a sentir que havia caído numa rotina de trabalhar, jantar, jogar videogame e dormir. Rinse and repeat. Isso foi acabando comigo.
Fazer só as mesmas coisas todos os dias pesou demais pra mim. Ficar preso nesse loop infinito acho que foi o que mais me fez mal.
É necessário perceber que você caiu na rotina e se mexer para quebrar um pouco. Pode ser uma coisa besta como dar um rolê numa quarta-feira a noite depois de sair do trampo. Arrumar uma aula de alguma coisa pra fazer. Qualquer coisa que quebre sua rotina.
A vida só faz sentido se a gente tem um objetivo. Se sua vida virar uma rotina e você não tiver um objetivo de curto/médio/longo prazo, você começa a não ver sentido naquilo ali. Quando menos se percebe, você passa a não ver mais sentido em viver. E aí começa a ficar perigoso.
Crie uma meta! Quebre sua rotina! Faça algo! Você pode, e só depende de você!
But first, let me tell you something
Agora eu preciso contar não um, mas DOIS segredos pra vocês…
Segredo 1
A ideia do blog foi da Rey. Ela sempre teve blog quando era mais nova e ela adora escrever. Então, o blog surgiu com dois propósitos:
- Relatar nosso processo em detalhes para quando aquele parente ou amigo viesse pedir pra gente trazer eles pro Canadá também (o famoso “arruma um emprego pra mim aí!”) a gente mandar o link do blog e dizer: foi assim que eu fiz, e você também pode fazer.
- Conhecer pessoas que já estavam aqui ou estavam a caminho do Canadá não importa de que forma.
O blog começou em Setembro de 2016 e um dos focos principais sempre foi conhecer pessoas aqui (vocês já viram o primeiríssimo post?), mas não só a gente conheceu uma pá de gente como também recebemos todos os dias o carinho de vocês muitas vezes em forma de comentários na nossa página no Facebook ou aqui nos comentários dos posts.
No começo a gente pensava que se a nossa história ajudasse uma pessoa a conseguir concluir seu processo com sucesso todo o esforço do blog já teria valido a pena. Hoje eu olho o nosso analytics e quase caio pra trás!
Pessoas que começaram a pesquisar, encontraram o blog, se inspiraram na nossa história e deu tudo certo e hoje estão aqui! Lá no nosso insta volta e meia vocês vão ver a gente com mais carinhas novas e diferentes que nos conheceram através do blog e hoje estão aqui!
Esse carinho e esse feedback de vocês é muito gratificante, e podem ficar tranquilos que não temos intenção de parar tão cedo .
Segredo 2
O segundo segredo é que eu estou re-visitando esse post após tê-lo escrito a umas duas semanas atrás e deixado-o na geladeira esse tempo.
O começo do post eu não mudei. Realmente representa algo que eu estava sentindo e que era muito forte. Toda solidão e a tristeza que eu estava sentindo (o Ben Affleck sabe do que eu to falando). Mas isso mudou.
Eu precisei de um tempo para refletir, por conta própria, no que eu estava passando. Foram uns três dias me sentindo só a derrota. Durante todo esse tempo, no entanto, eu estava processando na minha cabeça o que eu estava passando.
Hoje vejo como foi importante eu refletir e ser sincero comigo mesmo sobre o que eu estava sentindo. Me deu força de vontade de virar o jogo e descobrir o que fazer pra sair dessa deprê que eu estava.
A new hope
Quebramos a nossa rotina! Estamos fazendo coisas diferentes e buscando novos desafios. Traçando novas metas – daquelas que fazem os olhos brilharem! – e tocando o barco firme e forte! (inclusive, tem novidade vindo pra galera que acompanha o Casal Nerd no Canadá, fiquem ligados )
Voltamos a fazer aula de dança e é um ambiente que sempre contribuiu muito para nossa vida social. (pra quem não sabe, eu sou bailarino clássico e danço vários estilos de dança de salão). É um lugar onde, fatalmente, iremos conhecer várias pessoas diferentes que também são loucas com dança.
Agora também eu quero fazer aula de swordplay! Passei a vida jogando jogos onde os personagens manuseavam espadas, agora é minha vez! xD
Escrever esse post foi parte do meu processo de me entender comigo mesmo. Botei pra fora o que eu estava sentindo e olhei pra mim mesmo despido de filtros e julgamentos. Me fez perceber o que estava realmente acontecendo e ter um insight sobre como eu conseguiria dar a volta por cima.
E se você estiver aqui em Vancouver manda uma mensagem pelo nosso Facebook que a gente marca de ir tomar uma gelada =)
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