É possível imigrar sozinho para o Canadá? Quando a gente vê relatos sobre imigração por aí, a impressão que dá é que só casal vem para cá. Com ou sem filhos, parece que essa é a única opção para quem sonha em mudar de vida. Spoiler alert: não é.
É bastante comum, no entanto, encontrar histórias de pessoas que vieram para o Canadá sozinhas para estudar. E o pessoal que decide empreender a aventura de vir por conta própria para ficar, cadê?
Confira o passo-a-passo do Express Entry
Apesar de não parecer, os imigrantes solo também marcam presença no True North. E é sobre eles que a gente fala hoje. Segundo o IRCC, entre 2008 e 2017, um terço dos novos residentes permanentes do Canadá era solteiro, divorciado ou viúvo.
Já em relação a gênero, a divisão foi bem equilibrada, com quase a mesma quantidade de homens e mulheres. Estamos falando de mais de 700 mil imigrantes solo virando PR nesses 10 anos!
Mas o que muda para quem decide imigrar sozinho para o Canadá? Ao contrário do que muita gente pensa, imigrar sozinho pode beneficiar o candidato no Express Entry. Isso porque quem faz o processo de imigração sem cônjuge ganha uns pontinhos extras, que podem fazer toda a diferença. O valor mínimo para comprovação de fundos também é menor, já que cada familiar adicional aumenta a quantia exigida.
E já que o assunto é dinheiro, um ponto vital é o planejamento financeiro. Esse passo fundamental na organização de qualquer imigrante é ainda mais importante para quem vai imigrar sozinho. Afinal, não só os custos do processo vão ser pagos por apenas uma pessoa, mas também as despesas no Canadá.
Um reflexo disso pode ser um pouco mais de dificuldade ao achar um aluguel que caiba no bolso. Afinal, essa costuma ser a despesa mais significativa no orçamento de um recém-chegado. E para quem decide imigrar sozinho, esse gasto vai ser bancado por só uma pessoa.

Mas para tudo nessa vida tem jeito! Se você vai para uma cidade com alto custo de vida, dividir casa pode ser uma ótima maneira de economizar. De quebra, você ainda conhece gente nova. Aliás, se você quer saber quais são os tipos de moradia mais comuns no Canadá, clique aqui.
Vale lembrar que esse desafio não é exclusivo de quem vem sozinho. Para muitos casais, custear o aluguel e as contas de casa acaba ficando por conta de apenas uma pessoa. Isso é muito frequente quando apenas um dos parceiros trabalha, enquanto o outro estuda ou cuida dos filhos. De um jeito ou de outro, o negócio é caprichar na organização para juntar dinheiro e administrar bem o orçamento.
Outro fator muito importante é a sua personalidade. Antes de qualquer coisa, é preciso fazer uma auto-análise profunda para saber se essa é a melhor escolha. Você curte passar tempo sozinho ou prefere estar sempre com alguém do lado? Tem facilidade para fazer amigos? Caso esteja na dúvida, que tal um test drive? Antes de empacotar tudo de vez, por que não fazer um intercâmbio por algumas semanas?
Por fim, estar em um país novo pode ser difícil, tanto para quem vem sozinho quanto acompanhado. Por isso, é essencial cuidar da sua saúde mental. Se você vai imigrar por conta própria, é ainda mais importante ter uma rede de apoio firme. Se integrar à comunidade local é outro fator que pode ajudar na sua adaptação. Assim, chamar o Canadá de lar fica muito mais fácil, pode acreditar.
Para saber um pouco sobre a experiência de imigrar sozinho, conversamos com a Ana Oliveira e Silva. Ela contou tudo sobre a jornada dela até o Canadá, onde ela veio buscar mais qualidade de vida e oportunidades.
Casal Nerd entrevista

A historiadora Ana Oliveira e Silva, de Curitiba (PR), chegou de mala e cuia ao Canadá no fim de 2019. Com parentes em London e Toronto, ela já havia visitado o país outras vezes. No fim das contas, porém, ela decidiu ir para Ottawa, cidade que ganhou seu coração.
Sua principal motivação para deixar o Brasil foi a vida profissional. Enquanto se candidatava a programas de pós-doutorado, as perspectivas não estavam lá muito promissoras. Foi aí que o Canadá surgiu como uma alternativa.
Quando descobriu que tinha boas chances no Express Entry, Ana não pensou duas vezes. O namorido, ainda incerto sobre a imigração, ficou no Brasil. Se ele vai se juntar a ela no futuro, só o tempo vai dizer.
O resultado da mudança, até agora, é positivo. No Canadá, Ana viu que podia vislumbrar um futuro além da docência. Aqui, ela é pesquisadora em uma organização sem fins lucrativos. Além disso, Ana tem aproveitado para aumentar seu círculo social e aproveitar tudo que só o Canadá tem a oferecer.
O que fez você se mudar para o Canadá?
O fato de ser um país aberto à imigração. Eu tenho cidadania portuguesa e poderia me mudar para um país europeu. Porém, nesse momento a Europa passa por um processo de fechamento, enquanto o Canadá está mais aberto.
Seu plano sempre foi vir sozinha?
Eu e meu namorado morávamos juntos há quase sete anos. No entanto, ele não tinha nenhuma intenção de sair do Brasil e eu não tinha nenhuma intenção de continuar lá.
Então a gente decidiu que eu viria para ver o que ia acontecer. Se eu me adaptasse, achasse emprego e tudo estivesse legal, ele viria para visitar. Se gostasse muito, a gente faria o processo de sponsorship para ele. Esse plano só não deu certo porque veio a pandemia e ele não pôde viajar.
Você acha que vir sozinha trouxe alguma mudança para o seu planejamento?
Acho que não. Meus pontos (no Express Entry) diminuíam com ele, mas eu ainda teria pontuação suficiente (para receber um ITA). Mas isso não mudou minhas escolhas.
E na sua vida aqui, vir sozinha mudou alguma coisa?
Não. O principal motivo para eu sair do Brasil foi profissional. Eu não conseguia trabalhar na minha área e fazer o que eu queria. Então o meu plano profissional continuou o mesmo. Antes eu achava que só a universidade existia e aqui eu descobri que o setor de nonprofit é muito forte. Se eu estivesse com alguém, acho que a gente estaria fazendo as mesmas coisas (que estou fazendo sozinha). Sair, conhecer pessoas, se integrar à vida da cidade.
Então se sentir solitária não chegou a ser um problema aqui, no inverno, por exemplo?
Não foi no inverno porque eu tinha acabado de chegar e estava naquela empolgação extraordinária do começo. Eu tive amigos que vieram do Brasil em dezembro para me visitar, então não bateu a solidão. Meu inverno foi ótimo! A solidão bateu depois. Começou a bater com a pandemia, com a impossibilidade de viajar. Meu namorado, meus pais e minha irmã iam vir, mas não conseguiram.
Para você, quais são os prós e contras de imigrar sozinho para o Canadá?
O pró é que você faz o que quer, sem precisar negociar com ninguém. Você faz suas escolhas: onde morar, o que fazer no fim de semana. Você tem essa liberdade. O principal contra é que quando te dá uma bad, ninguém segura sua onda igual a um partner. Você tem amigos, mas não é a mesma coisa.
E você acha que dá para segurar tranquilamente as contas de casa?
Depende muito do quão rápido você consegue achar um emprego e de quão bem esse emprego paga. Não é um custo de vida muito alto, mas também não é muito baixo. Então dependendo de onde você vai morar e trabalhar, duas pessoas seguram melhor a onda do que uma. Mas se você faz um planejamento financeiro bem feito e consegue um emprego legal, é tranquilo. Mas tem que ter um planejamento anterior. Se você vem no limite, pode complicar.
Que dicas você daria para quem quer imigrar sozinho para o Canadá?
Planejamento financeiro. Mas precisa muito de um planejamento emocional também. E isso eu descobri conversando com pessoas que passaram pela mesma coisa. (É importante) ter muito claro na sua cabeça o motivo para ter saído do Brasil. Porque se você tem dúvidas, vai querer voltar na primeira bad que der. Então é importante ter muito certo na cabeça por que você saiu e o que você tem conseguido aqui. Talvez fazer uma comparação com quão infeliz eu era no trabalho e quão feliz eu estou agora. Ou lembrar como você andava na rua com medo da violência e aqui não. Você vai vacilar e vai ser difícil, mas se você tem isso mais claro, ajuda.
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